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terça-feira, 12 de novembro de 2013

COP19: À sombra de tufão devastador, Conferência do Clima se inicia na Polônia




Delegados participam de cerimônia de abertura da COP 19.



A XIX Conferência sobre o Clima das Nações Unidas começou nesta segunda-feira em Varsóvia (Polônia) para preparar um acordo global sobre a redução das emissões de gases que provocam o efeito estufa. Os países ainda têm dois anos para finalizar o texto para ser aprovado em 2015, em Paris.


O encontro, que reúne mais de 190 países até 22 de novembro, pretende conter o aumento da temperatura no planeta, que poderia chegar a 5ºC se a comunidade internacional não adotar medidas para impedir as mudanças climáticas. As negociações acontecem dois dias depois o devastador tufão Haiyan ter deixando ao menos 10.000 mortos nas Filipinas.

“Nós nos reunimos hoje com o peso sobre nossos ombros de muitas realidades que nos devem fazer refletir”, como o “impacto devastador do tufão Haiyan”, declarou a secretária-executiva para o clima das Nações Unidas, Christiana Figueres, diante das delegações do mundo inteiro.
“As próximas gerações travarão uma batalha imensa e o que está em jogo aqui, neste estádio, não é um jogo”, afirmou, em referência ao local de Varsóvia onde acontece a rodada de negociações até o dia 22 de novembro.

“Não há duas equipes, mas toda a humanidade. Não há vencedores ou perdedores. Ou todos ganhamos ou todos perdemos”, advertiu.

A delegada das Filipinas, Alicia Ilaga, lembrou, por sua vez, que durante a conferência anterior da ONU sobre o clima, realizada no fim de 2012 em Doha, seu país já havia sido atingido por outro tufão de categoria 5, Bopha. “E agora estamos em Varsóvia. Está escuro, faz frio e há tristeza não apenas em Varsóvia, mas também em meu país (…) O que mais podemos pedir nesta conferência, a não ser fazer as negociações avançarem e transformar as promessas em atos?”, se perguntou em uma coletiva de imprensa.

Outro delegado filipino, Naderev Sano, declarou-se em greve de fome durante 12 dias em solidariedade com seus compatriotas e em uma tentativa de pressionar seus colegas para que ocorram avanços. Com a voz embargada, ele disse na plenária de abertura que não pretende comer durante toda a conferência “até que resultados significativos apareçam no horizonte”. O diplomata classificou de “loucura climática” o que acontece nas Filipinas e garantiu que seu país não aceita que tenham de acontecer 30 ou 40 conferências para resolver o impasse.

Negociações se anunciam tensas

A comunidade internacional quer fixar como objetivo que a temperatura não suba mais de 2ºC em relação ao que era registrado antes da era pré-industrial. Se nada for feito, a temperatura pode aumentar 5ºC até o fim do século, e os fenômenos extremos se multiplicarão, lembraram em setembro os especialistas do clima do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC).

A relação entre ciclones e mudanças climáticas não é unanimidade entre os especialistas, mas eles não descartam que ocorram fenômenos cada vez mais extremos relacionados ao aumento das temperaturas dos oceanos.

Varsóvia inicia dois anos de negociações que acredita-se que terminarão em 2015 em Paris, com um acordo global, ambicioso e legalmente vinculante para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, que provocam o aumento da temperatura. O acordo entraria em vigor a partir de 2020.

Até agora, o único texto que limita as emissões de gases de efeito estufa é o protocolo de Kyoto, mas ele afeta apenas os países industrializados, com exceção dos Estados Unidos, que não o ratificaram, e cobre apenas 15% das emissões totais. O futuro acordo, que substituiria o protocolo de Kyoto em 2020, também incluiria os Estados Unidos e os grandes países emergentes, entre eles a China, primeiro poluente do mundo.

As discussões não serão fáceis, sobretudo no que diz respeito ao alcance dos compromissos legais que o texto contemplará ou ao compromisso das economias emergentes, que evocam seu direito ao desenvolvimento e à responsabilidade dos países industrializados no aquecimento. Christiana Figueres convocou as delegações a “esclarecerem os elementos do novo acordo que modelará as agendas climáticas, econômicas e de desenvolvimento depois de 2020″ e avançarem no dossiê da ajuda financeira para que os países do sul possam se adaptar às mudanças climáticas.

Os países do Norte prometeram 100 bilhões de dólares de ajuda até 2020, mas os do Sul ainda não viram nada e temem que se trate de promessas vazias. Na segunda semana de negociações, se somarão os ministros dos países representados para tentar produzir um texto que será adotado ao fim da conferência. A próxima reunião da ONU sobre o clima irá ocorrer no fim de 2014.

EcoDebate, 12/11/2013

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Concentração de gases de efeito estufa bate recorde em 2012

A concentração na atmosfera dos três principais gases de efeito estufa, relacionados ao aquecimento global, bateu um novo recorde em 2012, anunciou a Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU.

As últimas análises mostram que as “frações molares (uma unidade química para medir a concentração) de dióxido de carbono (CO2), de metano (CH4) e de óxido de nitrogênio (N20) alcançaram novos máximos em 2012″, disse a OMM em um informe.

Entre 1990 e 2012, “a forçante radiativa (a mudança na radiação do sistema climático) provocada pelos gases do efeito estufa e que provoca o aquecimento global aumentou 32%” por causa do CO2 e de outros gases que retêm calor, indicou a agência. No estudo anterior, publicado em 2011, o aumento era de 30%.

Segundo Michel Jarraud, secretário-geral da OMM, se o mundo continuar por este caminho “a temperatura média do planeta no fim do século pode superar em 4,6 graus a que era registrada antes da era industrial (1750), e em algumas regiões as consequências seriam catastróficas”.

O CO2 é o principal responsável pelo aquecimento da Terra. Em 2012, a concentração na atmosfera aumentou 2,2 ppm (partes por milhão), contra a alta de 2 ppm de 2011. O aumento médio nos últimos 10 anos foi de 2,02 ppm, o que significa que os números de 2012 demonstram “uma aceleração do processo”, segundo a OMM.

O CO2 é produzido pela combustão de matérias fósseis e pelo desmatamento. O gás permanece na atmosfera durante centenas e até milhares de anos, recorda a agência. “A maioria dos efeitos da mudança climática permanecerão durante séculos, mesmo que as emissões de CO2 parem de repente”, completa a OMM. (Fonte: G1)

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Meta de limitar aquecimento global a 2°C está cada vez mais distante, diz ONU


As possibilidades de limitar o aquecimento global a 2º graus Celsius (°C) estão diminuindo rapidamente, alerta relatório das Nações Unidas divulgado nesta terça-feira, a seis dias do início da 19ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro da Organização das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-19), que começa na próxima segunda-feira em Varsóvia, na Polônia.

“O desafio que enfrentamos não é técnico, é político”, disse o secretário executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner, durante a apresentação do relatório, hoje de manhã, em Berlim, na Alemanha.

As emissões mundiais de gases de efeito estufa serão 8 bilhões a 12 bilhões de toneladas mais elevadas do que as metas definidas para 2020, mesmo que os países cumpram os acordos de redução das emissões, revela o documento.

Os cientistas estimam que, se o aquecimento global ficar abaixo dos 2°C, as piores consequências poderão ser evitadas, mas, segundo o relatório, isso implicaria reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 14% até 2020.

Segundo o relatório anual 2013, as emissões atingirão cerca de 59 bilhões de toneladas até 2020, 1 bilhão a mais do que previa o relatório do ano passado. O aumento deve-se, entre outros fatores, a novos dados sobre a China e a uma atualização dos modelos utilizados. O Pnuma acredita, porém, que ainda é tecnicamente possível alcançar o objetivo.

O relatório, publicado às vésperas da COP-19, alerta que o setor agrícola, responsável por 11% das emissões de gases de efeito estufa, tem muito a fazer no que diz respeito à redução das emissões. Mais de 190 Estados reúnem-se na próxima semana para continuar as negociações com a meta de chegar, até 2015, a um acordo global sobre o clima que deverá entrar em vigor em 2020. (Fonte: Agência Brasil)

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Decrescimento: ‘Um crescimento infinito é incompatível com um mundo finito’, por Serge Latouche



O que realmente conta na vida não é mensurável, por isso vivemos uma “falência da felicidade quantificável”. Por outro lado, “um crescimento infinito é incompatível com um mundo finito. Quem acredita nisso ou é louco ou é economista”.

A crítica radical à economia de Serge Latouche, ele mesmo economista, além de sociólogo e antropólogo, visa a descolonizar o imaginário das “ideologias da sociedade moderna”, como indicadores a exemplo do PIB per capita.

Na noite desta segunda-feira, 21 de novembro, no câmpus de Porto Alegre da Unisinos, Latouche fez a sua primeira conferência dentro do Ciclo de Palestras: Economia de Baixo Carbono. Limites e Possibilidades, promovido peloInstituto Humanitas Unisinos – IHU. Sua fala, intituladaDesenvolvimento Humano, Decrescimento e a Sociedade Convivial, foi comentada posteriormente por Plinio Alexandre Zalewski Vargas, diretor da Secretaria de Governançada Prefeitura Municipal de Porto Alegre.

Nela, o professor de economia da Universidade de Paris XI – Sceaux/Orsay retomou o histórico do seu conceito mais importante: o decrescimento. Seu principal interesse no encontro era apresentar como é possível encontrar, por meio do decrescimento, a “felicidade na frugalidade convivial”.

Latouche começou retomando o histórico do “dispositivo” do PIB (produto interno bruto) per capita, que reduziu a felicidade a um indicador econômico. Historicamente, segundo ele, na passagem da felicidade ao PIB, ocorreu uma tripla redução: 1) a felicidade terrestre passou a ser assimilada ao bem-estar material, em sentido físico, palpável; 2) o bem-estar material foi reduzido ao que pode ser avaliado quantitativamente, estatisticamente, aos bens e serviços comercializáveis e consumíveis; 3) a variação da soma dos bens e serviços caracterizaria a diferença entre o PIB e PIL (produto interno líquido ).

Porém, criticou, o PIB só mede a riqueza comercializável, excluindo-se as transações fora do mercado, como os serviços domésticos, o voluntariado, o mercado negro etc. No caso brasileiro, exemplificou Latouche, a destruição da floresta amazônica não é contada no PIB. “O PIB mede os outputs, ou a produção, e não os outcomes, ou os resultados”, resumindo. Retomando o ex-presidente dos EUA, Kennedy, Latouche afirmou que o PIB também não inclui a saúde das crianças, a beleza da poesia, a solidez do casamento, a integridade, a inteligência e a sabedoria de um povo. “Mede tudo, menos o que faz com que a vida valha a pena de ser vivida”, resumiu.


Por isso, com o passar do tempo, ao experimentarmos que o consumo não faz a felicidade, vivemos uma crise de valores. Algumas tentativas de superar essa mensurabilidade econômica foram, por exemplo, o Genuine Progress Indicator (Indicador de Progresso Autêntico), proposto pelo economista norte-americano Herman Daly, levando em consideração as perdas causadas, por exemplo, pela poluição e pela degradação do meio ambiente. Outra proposta foi a da ONG New Economics Foundation, que, cruzando os resultados das enquetes das organizações da ONU sobre o que os anglo-saxões chamam de sentimento do bem-estar vivido (satisfação subjetiva, esperança média de vida e pegada ecológica per capita), chegaram a um Happy Planet Index (Índice do Planeta Feliz).

Segundo Latouche, também emergiu novamente uma ideia de economia civil da felicidade, desenvolvida a partir dos EUA e que tomou um novo curso na Itália. Para o pensador francês, os teóricos dessa corrente reabilitam uma certa forma de sobriedade, unindo-se a outros movimentos, como o do decrescimento. Mas – e essa é também a sua crítica – veiculam uma certa ambiguidade, deixando sobreviver o “corpo moribundo” daquilo que pretendem destruir: ou seja, uma mentalidade que tudo calcula. Abolindo a fronteira entre o econômico e o não econômico, afirmou Latouche, a teoria da economia civil deixa o caminho aberto a uma forma de pane da economização de tudo, que já estava na ideia de Malthus, tentando incluir dentro dos cálculos o que é incalculável.

Crise de valores

Em síntese, o que essas tentativas demonstram, afirmou Latouche, é que “a sociedade dita desenvolvida, da opulência, se baseia em uma produção massiva, mas também em uma perda de valores”. Assim, retomando um conceito caro a um teólogo amigo seu, Raimon Panikkar, é necessária uma metanoia, ou seja, questionar profundamente o mito do progresso indefinido. É preciso “resistir ao imperialismo da economia para reencontrar o social”. “O que realmente conta na vida não se mede”, sintetiza Latouche.

Portanto, como encontrar a felicidade dentro da frugalidade convivial? 


Para isso, Latouche reatualiza a intuição do teólogo Ivan Illich, ainda dos anos 1970, do termo convivialidade, que, de certa forma, encontra-se em sintonia com a proposta andina do bem-viver (sumak kawsay), que, afirma, “tem mais coerência do que os economistas, que tentam medir o que não é mensurável”.

Felicidade, para Latouche, é a “abundância frugal em uma sociedade solidária”. Uma prosperidade sem objetivo, uma sobriedade voluntária, segundo Illich. “O projeto de decrescimento que queremos – slogan para marcar uma ruptura com essa lógica do “sempre mais”, do crescimento indefinido – é uma saída do ciclo infernal da criação de necessidades e produtos”.

Esse conceito – decrescimento – nasceu em março de 2002, a partir do colóquio da Unesco“Desfazer o desenvolvimento, refazer o mundo”. Foi a última aparição pública de Ivan Illich. Em síntese, contou Latouche, chegou-se à conclusão de que é preciso combater odesenvolvimento sustentável, que é uma contradição em termos, porque o desenvolvimento “nada mais é do que uma transformação qualitativa do crescimento, e um crescimento infinito é incompatível com um mundo finito”, afirmou. “Quem acredita nisso ou é louco ou é economista”.

Futuro sustentável

Se o desenvolvimento é uma “palavra tóxica”, Latouche prefere falar de um “futuro sustentável da vida”. E esse, sim, é possível. Por isso, a proposta do decrescimento é a da autolimitação e simplicidade voluntárias, da abundância frugal, da reabilitação do espírito da doação e da promoção da convivialidade. Se na década de 1960 se falava de círculos virtuosos do crescimento, é necessário um círculo virtuoso do decrescimento. Uma “mudança de software”, ilustra Latouche, uma mudança “daquilo que os marxistas chamavam de superestrutura, que leva a uma mudança da infraestrutura”.

E ele propõe, para isso, oito passos:
reavaliar
reconceitualizar
reestruturar
realocar
redistribuir
reduzir
reutilizar
reciclar

Assim, será possível sair do paradigma que nos dominou há dois séculos, o “paradigma da economia”. “Tendemos a ver tudo sob o prisma da economia, que, no entanto, é muito recente e limitado a uma única cultura, uma dentre outras: o Ocidente”. Por isso, para ele, outra contradição em termos é a economia solidária. Em nível teórico, explicou, “é um oximoro, assim como o desenvolvimento sustentável. A economia existente não é solidária, é baseada na avidez, no lucro máximo. Caso contrário, estamos no social, no político, na solidariedade, baseada na lógica da troca, da doação”.

Portanto, sair dessa economicização, para Latouche, é uma conversão ao contrário. “Temos uma relação religiosa com a economia. É preciso nos tornarmos ateus e agnósticos do crescimento. É preciso reencontrar a abundância perdida”. Descolonizar e deseconomizar o imaginário é “redimensionar o papel do econômico no social”, limitar a avidez, limitar o “greed is good” das escolas de administração. É, em suma, reapropriar-se, enquanto sociedade, das três bases do capitalismo: o trabalho, a terra e o dinheiro. “Não é abolir o capitalismo – esclarece Latouche –, é mudar o nosso software, a nossa educação, é possibilitar regulações, hibridações e proposições concretas para chegar à abundância frugal”.

Para ajudar nessa “reformatação”, não basta seguir a “via” do decrescimento. Latoucheprefere falar do “tao do decrescimento”, palavra chinesa que, além da dimensão de caminho, percurso, remete também à ética. “Não é possível encontrar a felicidade sem restringir e limitar os nossos desejos – a autolimitação que se encontra nos ameríndios, na África, no passado do Ocidente, no epicurismo. Todas as sabedorias do mundo têm essa ideia fundamental”, explica. É necessário, hoje, dominar o que os gregos consideravam como o perigo por excelência: a hybris, a desmedida.

Aceleração do decrescimento?

Em pleno andamento de um “plano de aceleração do crescimento”, Latouche tem esperança no Brasil. Para ele, o país foi um “precursor do decrescimento”, a partir das propostas nascidas em Porto Alegre, de um outro mundo possível, ou em figuras como Chico Mendes, ou no Manifesto Ecossocialista de Belém, que, segundo Latouche, está bastante próximo das ideias do decrescimento. “O Brasil tem todas as condições favoráveis para uma transição para uma sociedade da abundância frugal”. Para isso, basta superar as condições psicológicas limitadas à colonização do imaginário em torno da economia e do crescimento.

No fim do debate, para os interessados em aprofundar a reflexão, Latouche indicou o site da revista acadêmica Entropia (www.entropia-la-revue.org), dedicada ao estudo do decrescimento, que contém contribuições em francês, inglês, espanhol, italiano e também em português.

A programação do com a presença de Serge Latouche continua nesta terça-feira com a palestra Por outro modo de consumir: Descrição de algumas experiências alternativas, das 16h às 18h, na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, no IHU. O restante da programação, que vai até a próxima sexta-feira, dia 25, pode ser conferido aqui.

(Por Moisés Sbardelotto)

(Ecodebate, 24/11/2011) publicado pela IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.